Finanças

“Cluster” do calçado quer ser referência internacional – Social

O setor do calçado vernáculo é constituído por tapume de 1.300 empresas que abarcam 40 milénio postos de trabalho. Segundo dados da Associação Portuguesa da Indústria do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos (APICCAPS), o setor exporta anualmente 80 milhões de pares de calçado, no valor de 2.000 milhões de euros, para 172 países, nos cinco continentes. “Todos os anos, o setor do calçado contribui com mais de 1.400 milhões de euros para a balança mercantil portuguesa. Esse será sempre um dos seus grandes atributos”, começa por referir Luís Onofre, presidente da APICCAPS.

Números que apoiam o próximo salto da indústria, que tem de abraçar os desafios da digitalização e da sustentabilidade com potente aposta na inovação. A indústria portuguesa de calçado vai investir 140 milhões de euros nos próximos três anos, através do “Cluster” do Calçado e Tendência, liderado pela APICCAPS e pelo Núcleo Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP), “com o objetivo de ser a referência internacional no desenvolvimento de soluções sustentáveis”, sublinha Luís Onofre. O setor pretende também “substanciar as exportações portuguesas alicerçadas numa base produtiva vernáculo altamente competitiva, fundada no conhecimento e na inovação”, acrescenta o presidente da APICCAPS.

A APICCAPS e o CTCP reuniram mais de 100 entidades, entre universidades, empresas e instituições do sistema científico e tecnológico, e estão a preparar uma novidade dez de incremento nos mercados externos em dois projetos distintos enquadrados no Projecto de Recuperação e Resiliência (PRR).

Um desses projetos é o BioShoes4All. Dividido em cinco pilares – biomateriais, calçado ecológico, economia rodear, tecnologias avançadas de produção e capacitação e promoção – visa induzir uma mudança radical nos materiais, tecnologias, processos e nos produtos de calçado e marroquinaria, contribuindo para promover a transição do “cluster” para a bioeconomia sustentável e rodear. “O setor de calçado tem a cobiça de induzir uma mudança radical nos materiais, tecnologias, processos e resultado”, destaca Luís Onofre.

O outro projeto, denominado FAIST, é uma agenda mobilizadora que atua principalmente no desenvolvimento de tecnologias produtivas com vista à modernização das empresas. “Estes projetos são considerados estratégicos e fundamentais para a modernização do setor e para contribuir para a transição sustentável e do dedo”, destaca Maria Luísa Correia, diretora-geral do CTCP.

Assim, o consórcio do calçado tem vindo a apostar na investigação, desenvolvimento e emprego de materiais e processos mais sustentáveis para obtenção de produtos de calçado e marroquinaria com melhor desempenho ambiental. Tal passa por materiais de base biológica, uma vez que o epiderme, materiais alternativos e biocompósitos, incorporando biomassas e subprodutos da indústria agroalimentar, biopolímeros de base biológica ou biodegradáveis e materiais isentos de substâncias críticas para a saúde e o envolvente.

Nesta risco, Maria Luísa Correia refere que “a indústria tem trabalhado intensamente em soluções para promover a circularidade, quer pelo desenvolvimento de novas tecnologias de produção, para uma utilização mais eficiente dos recursos, quer pela implementação de soluções e processos para a reciclagem e valorização dos resíduos de manufatura e resíduos pós-consumo”.

Uma vez que o mundo enfrenta atualmente duas revoluções, a virente e a do dedo, a modernização das empresas acontece em paralelo também no setor do calçado. “Estas revoluções ocorrem de forma articulada, não sendo provável dissociar a sustentabilidade da tecnologia, ao longo de toda a prisão de valor, desde a conceção e desenvolvimento do resultado, passando pela produção, até à sua comercialização”, destaca a diretora-geral do CTCP.

Para além das dinâmicas operacionais do “cluster”, no início deste ano, 140 empresas de calçado vernáculo assinaram um compromisso virente, onde se vinculam a trabalhar para um planeta com zero emissões de carbono em 2050 e uma redução para metade em 2030.

Estas empresas estão atualmente a ser sujeitas a um diagnóstico que dará lugar a um projecto de ação individual com ações a desenvolver em matérias uma vez que ecodesign, redução do desperdício, produção e utilização de energias verdes ou implementação de novos modelos de negócios. “Os diagnósticos já se iniciaram e deverão estar concluídos no final do ano”, avança Luís Onofre.

Dificuldades num mundo global

Para além das transições que o setor tem de fazer, competir num mundo global acresce dificuldades à indústria, pelo que a sua dimensão tem de ser levada em risco de conta. Por isso, Maria Luísa Correia considera que “dada a natureza do nosso tecido empresarial, principalmente constituído por PME, e a capacidade de produção instalada, o “cluster” vernáculo não deve almejar grandes produções, mas continuar o seu caminho e estratégia distinguindo-se no mercado pela inovação, qualidade e valor estendido dos seus produtos e serviços, respondendo de forma rápida, eficiente e maleável”. Por isso, acrescenta, “a aposta na sofisticação, na originalidade, na tecnologia, no conhecimento e na inovação são a chave para o sucesso”.

A graduação é precisamente uma das grandes dificuldades para as empresas nacionais. É o caso da J-UNK, que quer vingar na extensão do calçado sustentável ao utilizar uma vez que material mangueiras danificadas em incêndios, desenvolvendo também um lado de cariz social com donativos às associações humanitárias de bombeiros voluntários.

“Promovemos a sustentabilidade do calçado vernáculo através dos nossos fornecedores locais, que ficam todos localizados num relâmpago de 10 quilómetros, dos materiais e dos excedentes para gerar novos produtos”, explica Bárbara Silva, “marketing planner” da J-UNK.

A grande dificuldade que sente para obter a sustentabilidade “é refazer fornecedores que façam pequenas quantidades para as nossas pequenas produções”. “Outra dificuldade é a obtenção de materiais sustentáveis, que pode ser desafiadora, pois envolve encontrar fontes de materiais renováveis, biodegradáveis ou reciclados, o que requer muita pesquisa e uma procura uniforme por materiais inovadores”, explica. Outro grande repto, acrescenta, “é consciencializar os consumidores sobre a valor da sustentabilidade neste setor”. A responsável da marca considera que “é necessário voltar a educar os consumidores, para que todos juntos consigamos caminhar para um porvir mais ecológico e sustentável”.

Também para Lucie Gomes, diretora-geral da Etikway, encontrar materiais sustentáveis a um dispêndio razoável e prometer a sua disponibilidade no mercado é dos principais desafios, muito uma vez que o estabilidade entre a sustentabilidade e a relação custo-benefício, “pois os materiais e processos de fabricação sustentáveis são muito mais caros”, revela.

Esta empresa, que dá novidade vida a ténis usados promovendo a economia rodear, tem também em risco de conta a sustentabilidade social, “incluindo práticas trabalhistas justas, condições seguras de trabalho e bem-estar do trabalhador, principalmente nas cadeias produtivas globais, o que nos levou – além dos benefícios ecológicos, a optar por uma produção exclusivamente vernáculo”, explica Lucie Gomes. A empresa quer contribuir para a transformação sustentável desta indústria recorrendo a materiais ecologicamente corretos, processos de fabrico responsáveis, promovendo a circularidade e auditando a transparência da prisão de fornecimento.

A empresária considera, também, que há um grande trabalho a fazer junto dos consumidores, nomeadamente, “educar sobre a valor de escolher calçados duráveis e atender à procura do mercado para se alongar da tendência de consumo rápido e produtos descartáveis”. Motivo pelo qual está a apostar na internacionalização da marca, de forma a conseguir chegar a um público que valorize mais as questões ambientais e sociais em toda a prisão de valor.

À procura de talento

Informação, notícia, divulgação e instrução são necessidades que atravessam os diversos “stakeholders” do setor para se fazerem as necessárias transições. Por isso, Luís Onofre recorda que é necessário atrair uma novidade geração de talento. Na fileira da tendência, dados da Percentagem Europeia reportam que até 2030 serão necessários 500 milénio novos trabalhadores nos setores têxtil, vestuário e calçado na Europa.

“Temos muito noção dessa verdade. Temos em curso um “Roteiro do Conhecimento”, com ações em 86 escolas das zonas de potente concentração da indústria de calçado (Guimarães, Felgueiras, Oliveira de Azeméis, Santa Maria da Feira e São João da Madeira). Trata-se de um projeto que visa desmistificar ideias preconcebidas e atrair os jovens para a indústria”, destaca o líder da APICCAPS.

Também Maria Luísa Correia aponta nesse sentido. A transição do “cluster” para a sustentabilidade “requer uma aposta contínua na capacitação dos recursos humanos e na captação de novos talentos altamente qualificados, para responder aos desafios inerentes a esta transição”. Requer ainda “uma maior aposta na produção vernáculo de materiais e produtos inovadores, sustentáveis e comercialmente competitivos, reduzindo a subordinação dos mercados externos” e “inovação e novas tecnologias e processos”.

A APICCAPS defende que confederar a competitividade à qualidade é o grande repto da indústria portuguesa de calçado para o século XXI. Num mundo em que 88% da quota de produção de calçado está alocada à Ásia, Luís Onofre recorda que Portugal é um pequeno “player”. “Entendemos que há espaço para substanciar o papel de um pequeno produtor europeu, especializado na capacidade de resposta rápida, que desenvolve produtos de vantagem a preços justos, respeitando às convenções internacionais e os direitos humanos. Por esse motivo, estamos a fazer os maiores investimentos da nossa história, para reposicionar o setor nos mercados externos”, refere.

Os números do calçado vernáculo  – Integra 1.300 empresas– Alberga 40 milénio postos de trabalho– Exporta anualmente 80 milhões de pares de calçado, no valor de 2000 milhões de euros, para 172 países– Setor contribui anualmente com 1.400 milhões de euros para a balança mercantil portuguesa

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